Lugar e lugar de encontrar o outro


No dicionário, lugar significa: 1. Espaço ocupado ou que pode ser ocupado por um corpo, 2. Ponto (em que está alguém), 3. Localidade, 4. Pequena povoação. Mas esta palavra apresenta também outras definições possíveis e relevantes.

Para Aristóteles, o lugar seria o limite que circunda o corpo. Para Descartes, além de delimitar o corpo, o lugar deveria ser também definido em relação a posição de outros corpos. Para os seguidores da Geografia Humanística, o lugar caracteriza-se principalmente pela valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente. Desta maneira, o lugar é produto da experiência humana.

É claro que existem os componentes fisiográficos delimitados pelo relevo (planície, planalto, montanha etc.), água (mar, rio, lago, cachoeira, ilha etc.), vegetação e posição em relação ao sol. Neste contexto, o lugar está contido no espaço e seriam as experiências as transformadoras dos espaços em lugares.

O lugar acontece da relação entre pessoa(s) e o meio, a partir da convivência, e pode ser redefinido. Propor um lugar de encontrar o outro é, então, atrelar outros significativos referenciais à vida cotidiana, alterando o modos vivendi. E não é este o papel primeiro da arte? Potencializar novas formas de pensamento e de expressão, reinventar a cotidianidade?


Provocar o deslocamento no espaço, redefinindo as relações com outras pessoas, grupos, lugares e coisas vem sendo recorrente nas propostas de alguns artistas de Ipatinga. No trabalho “Travessia”, o Hibridus propõe a transformação dos lugares públicos onde o grupo realiza a sua dança. Parte-se da crença que significados se fazem e, assim, que lugares se constroem. No trabalho “Corpo – Espaço – Cidade” o grupo continua com a pesquisa da dança abordando, mesmo que de maneira instantânea, o corpo e sua presença no espaço público, o encontro entre as ações das pessoas e outros.

O artista visual Nilmar Lage, em sua proposta para a obra “O Espaço Cultural Temporário Azul Verde”, dialoga com espaços urbanos e suas aplicabilidades no cotidiano. Ele coloca a arte em contato com o mundo e reapresenta um lugar, inicialmente inóspito. Na obra “Eu Galeria”, existe a nítida discussão da relação público/privado e do lugar da arte. Neste trabalho, ocorre a potencialização da relação entre pessoa e
meio, uma vez que a obra só acontece quando existe a presença do outro. Em ambos os trabalhos, acontece a ruptura da noção de espaço e a criação de lugares nos locais ocupados.

Outra ação artística proposta na região do Vale do Aço foi a “Banca de Design”. Seu local de implantação era aberto e de fácil acesso de maneira a possibilitar o contato com qualquer transeunte e conseguir facilitar o encontro do público com a arte produzida na região. Sua transformação recente em “Banca de Cultura” busca aproximar ainda mais a população de seu patrimônio cultural, descondicionando o olhar, alterando o lugar público e sugerindo outras possibilidades de se viver.

Cito apenas três experiências, das tantas manifestações culturais já realizadas em Ipatinga, para apresentar esta procura do eu através do
outro e assim se construir referências no mundo e se fazer lugares através do encontro.

Carla Paoliello, arquiteta urbanista, professora do curso de arquitetura e urbanismo do Unileste/MG, sócia fundadora da banca de design, agora Banca de Cultura e responsável pela proposição e organização de diversos eventos culturais.