Ipatinga


Um breve relato da história do movimento cultural de Ipatinga/MG

A história das artes cênicas em Ipatinga é carregada de sonhos, lutas, dedicação e, sem dúvidas, de superação. Nosso espetáculo inicia-se em meados de 1950, no vilarejo de Ipatinga, onde residiam apenas algumas dezenas de moradores e a principal fonte econômica era a extração de madeira para a produção do carvão que abastecia os fornos das usinas siderúrgicas instaladas na região, a Belgo-Mineira (João Monlevade) e a Aços Especiais Itabira (Timóteo). Na época, Ipatinga possuia uma rua principal conhecida como Rua do Comércio (atual 28 de Abril, no Centro da cidade), não contava com luz elétrica e nem com abastecimento de água.

É nesse cenário que surgem os primeiros artistas que lutaram para criar e fortalecer a cultura na região do Vale do Aço, uma história de trocas, parcerias e profissionalização. No princípio, uma tentativa de superar os limites do homem, a timidez, o medo, as perdas; depois, o desejo de encenar a vida, de utilizar a arte como ferramenta na busca pela cidadania e respeito a nossa cultura.

A implantação da USIMINAS, que teve início em 1959, provocou grandes mudanças naquele vilarejo, de 300 casas à população de 239.468 mil habitantes. Pessoas vindas de diversos lugares e diversas culturas: árabes, japoneses, europeus, norte-americanos, latinos, nordestinos, sulistas, paulistas, cariocas, capixabas, e várias cidades de Minas ajudaram a construir a cidade.

Planejamentos e ações:

Com isso veio também a necessidade de se planejar ações culturais no município. O primeiro diagnóstico cultural que se tem registro foi orientado por Rômulo Avelar (1999). Esse trabalho teve participação de artistas, professores, agentes e produtores culturais e, ao final foi elaborado um documento diagnosticando problemas e soluções.

Em março de 2002 o Departamento de Cultura contrata a consultoria de Ronieri Menezes, que elabora junto com o Departamento um Plano de Política Cultural.

Em outubro de 2005 é realizada a primeira Conferência Municipal de Cultura, com o objetivo de eleger o Conselho Municipal de Cultura; subsidiar a construção de diretrizes para o Plano Estadual de Cultura; contribuir para estratégia de implantação do Sistema Nacional de Cultura no município; eleger delegados que representariam a cidade na primeira Conferência Estadual de Cultura; pensar estratégias para o fortalecimento da cultura da cidade. Ipatinga teve representação também na Conferência Nacional de Cultura, que foi realizada em março de 2010.

Em novembro de 2005 é criado o Conselho Municipal de Cultura de Ipatinga, com funções deliberativa e consultiva, com 32 membros efetivos e 32 suplentes, com representantes do governo municipal, dos artistas e agentes culturais e da sociedade civil organizada.

Com o objetivo de mapear o patrimônio material e imaterial da cidade, ouvir os anseios e propostas da comunidade, o Departamento de Cultura, Movimento Cultural e Conselho de Cultura se unem para realizar a segunda conferência municipal.  Foram realizados sete encontros preparatórios nas regionais da cidade, e a essa ação demos o nome de Pré-conferências. O levantamento feito nas comunidades serviu de subsídio para a elaboração das diretrizes apresentadas na plenária da segunda Conferência Municipal de Cultura, realizada em agosto de 2009. Nesse momento contamos com a orientação do cientista político Claudio Letro.

Em outubro de 2011, foi realizado o primeiro Seminário Patrocínio Cultural: uma oportunidade de negócio, realizado pela Flux Cia. de Dança em parceira com o Movimento Cultural, Usiminas por meio do Usicultura, Cenibra por meio do Instituto Cenibra e Secretaria Estadual de Cultura, com o objetivo de sensibilizar e informar os empresários da possibilidade de patrocinar projetos culturais por meio de dedução de impostos.

Em dezembro do mesmo ano, foi realizada a terceira Conferência Municipal de Cultura. A partir das diretrizes da segunda conferência, foi feito uma avaliação do que conseguimos realizar e quais eram as demandas. Foi eleito, como prioridade, a criação e instituição legal do Sistema Municipal de Cultura, integrado aos Sistemas Estadual e Nacional de Cultura; reestruturar o departamento de cultura; criar uma secretaria exclusiva de cultura; implementar o Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais; criar o Centro Cultural e revisar a lei que cria o Conselho Municipal de Patrimônio.

Grupos e eventos culturais:

Hoje temos em nossa cidade 8 grupos de dança: In Boa Cia, Cia Cintia Barros de Dança Árabe, Flux Cia. de dança, Hagios Cia, Hibridus Dança, Meia Cia de Dança,  Novo Proceder e Núcleo Dança-Dor.

18 espaços culturais: Academia Olguin, Aproc, Banca de Cultura, Casa do Teatro Perna de Palco, Casa Laboratório, Escola Municipal de Artes Cênicas Antônio Roberto Guarnieri, Espaço Cia Bruta, Espaço Cia Cintia Barros Danças, Espaço Cultural Casa de Barro, Espaço Entreactos, Espaço Hibridus, Flux Espaço Cultural, Galeria de Arte Hideo Kobayashi, Garajão, Teatro Centro Cultural Usiminas, Teatro Circu-Lar Farroupilha, Teatro Di Mônico, Teatro Zélia Olguin.

9 grupos de teatro: Cia Bruta, Cia Corpo de Prova, Grupo Argumento, Grupo Farroupilha, Grupo de  Teatro Esterco, Grupo Teatral Boca de Cena, Grupo de Teatro Cleyde Yaconis, Grupo Perna de Palco, Grupo Teatral Entreactos.

1 grupo circo/teatro: Circo Fool.

Apesar da grande quantidade de eventos e dos vários grupos de dança, teatro e manifestações culturais, os grupos e espaços vivem em uma realidade de total instabilidade. Treze anos depois do primeiro diagnóstico, avançamos pouco quando o assunto é políticas públicas de cultura, faz-se necessário uma urgente reestruturação no Departamento de Cultura. Hoje, a responsabilidade de apoio cultural fica quase 90% sob a responsabilidade do Estado, por meio da isenção fiscal, o município investe pouco menos que 0,5% do Orçamento Municipal em cultura. Os espaços públicos de cultura municipal como a Escola de Música Tenente Oswaldo Machado, a Escola de Artes Cênicas Antônio Roberto Guarnieri encontram-se fechados, a Estação Memória e a Biblioteca Municipal e outros, encontram-se sucateados. O município não possui um banco de dados atualizado que possa servir de base para o Sistema Municipal de Cultura. Até o presente momento faltou vontade política por parte do representante legal do município em aderirmos ao Sistema Nacional de Cultura e ainda não foi elaborado um plano municipal que sirva de base e subsídio para a administração pública na gestão da cultura da cidade. 

É preciso construir de forma participativa um plano de cultura, pensar em ações de desenvolvimento sustentável, de fomento e financiamento. Uma política que possibilite os direitos culturais, a livre expressão, a criação, a difusão, a proteção e o acesso aos bens culturais.

Leila Cunha
Produtora Cultural e Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Ipatinga/MG
Outubro/2012